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terça-feira, 20 de novembro de 2012

ENEM, vestibulares e a arrogância universitária



Talvez um dos piores males existentes no pífio sistema educacional brasileiro é a existência de vestibulares e mais recentemente do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) criado pelo MEC (Ministério da Educação) que nada mais são do que provas elaboradas para selecionar os “melhores” estudantes para as diversas universidades brasileiras.
Vários são os pontos calamitosos acerca da insistência das universidades e do MEC nesse tipo de seleção universitária.
Para início de conversa, o problema já se inicia na elaboração das provas. A maioria dos vestibulares e mesmo o ENEM são organizados por uma banca universitária formada em sua maioria por professores também universitários que terão a incumbência de preparar questões para estudantes do ensino médio. Aqui já começam os problemas. Primeiro, quem elabora os vestibulares e por conseqüência o ENEM são professores que em sua maioria nunca estiveram ou trabalharam em escolas do ensino médio ou no mínimo estão cinco, dez anos longe delas. A conseqüência disto são questões feitas e ordenadas com o mais desprovido senso realístico do aprendizado ocorrido no ensino fundamental e médio no Brasil. São inúmeras questões mal feitas, mal escritas, mal formuladas nas quais muitas delas tratam de assuntos que não apresentam nenhuma importância significativa para os vestibulandos. Segundo, a elaboração dos vestibulares e também do ENEM leva em consideração o fim de um processo, ou seja, grande parte dos “intelectuais” em educação que estão nas universidades cobram dos professores do ensino fundamental e médio que a ação avaliativa seja freqüente ao longo do processo de ensino-aprendizagem mais fazem justamente ao contrário através dos vestibulares e do ENEM, ou seja, condenam a avaliação bimestral ou o “provão” mais o que seria um vestibular? Pelo menos, a maioria das provas são bimestrais e os vestibulares? 
Outro ponto a ser refletido é como uma prova feita em quatro horas, cinco horas pode ser capaz de avaliar o aprendizado escolar que dura no mínimo 12 (doze) anos! Ora, isso é injusto e totalmente surreal. Imagine a provação sobre um estudante que tem sua carreira escolar de tantos anos definida por uma “prova” feita por um professor que nunca viu. Quantos casos conheço de estudantes que se prepararam durante anos e na hora do vestibular esqueceram tudo - deu branco, como dizem – ou simplesmente passaram por alguma enfermidade como dor de cabeça, diarréia atrapalhando seu desempenho na hora da prova.
      Finalizando, mencionaremos um artigo do grande educador Lauro de Oliveira Lima, intitulado “Vestibular”, publicado no jornal "O Povo" de Fortaleza, no ano de 1990, que esclarece sua posição sobre esta metodologia criada em 1911, há cento e um anos atrás.
      “Todo mundo sabe que o exame vestibular é o processo mais inautêntico possível para avaliar quem deve entrar na Universidade, com uma agravante: a ameaça do exame vestibular corrompe o sistema escolar todo, a partir do jardim de infância - basta lembrar a múltipla escolha e as cruzadinhas adotadas em todos os graus, cursos e séries. Dez anos de escolaridade são desprezados, com centenas de avaliações parciais, por algumas horas de provas cujos resultados são aleatórios.
      O exame vestibular é uma desmoralização para o magistério (...) não entendo porque o magistério jamais protestou contra esta desmoralização. Os julgamentos feitos nos doze anos de escolaridade são suspeitos! Milhares de professores promovem alunos, dão notas, avaliam seu aproveitamento... tudo em vão? Será que uma comissão de professores tem mais credibilidade para determinar o ingresso dos mais capazes na Universidade?
      Por que não valorizar os resultados escolares desde o primeiro ano, ano por ano, acumulando-se as avaliações que se irão auto-corrigindo? São dezenas de mestres opinando sobre o aluno, durante doze anos. Poder-se-ia mesmo introduzir um julgamento referente à capacidade do aluno e um prognóstico sobre sua futura vida escolar. Desde cedo os pais tomariam conhecimento das probabilidades de seu filho conquistar a Universidade. (...) Poderiam interpelar os mestres sobre os julgamentos feitos, dando extrema seriedade ao diagnóstico, agora vigiado pela sociedade. O sistema escolar ganharia um novo tônus. Sabendo-se que os resultados parciais, ao longo da escolaridade, são contabilizados para o ingresso na Universidade, todos darão maior seriedade ao processo escolar”

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