Talvez
um dos piores males existentes no pífio sistema educacional brasileiro é a existência
de vestibulares e mais recentemente do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio)
criado pelo MEC (Ministério da Educação) que nada mais são do que provas
elaboradas para selecionar os “melhores” estudantes para as diversas universidades
brasileiras.
Vários
são os pontos calamitosos acerca da insistência das universidades e do MEC
nesse tipo de seleção universitária.
Para
início de conversa, o problema já se inicia na elaboração das provas. A maioria
dos vestibulares e mesmo o ENEM são organizados por uma banca universitária
formada em sua maioria por professores também universitários que terão a
incumbência de preparar questões para estudantes do ensino médio. Aqui já
começam os problemas. Primeiro, quem elabora os vestibulares e por conseqüência
o ENEM são professores que em sua maioria nunca estiveram ou trabalharam em
escolas do ensino médio ou no mínimo estão cinco, dez anos longe delas. A
conseqüência disto são questões feitas e ordenadas com o mais desprovido senso
realístico do aprendizado ocorrido no ensino fundamental e médio no Brasil. São
inúmeras questões mal feitas, mal escritas, mal formuladas nas quais muitas
delas tratam de assuntos que não apresentam nenhuma importância significativa
para os vestibulandos. Segundo, a elaboração dos vestibulares e também do ENEM
leva em consideração o fim de um processo, ou seja, grande parte dos
“intelectuais” em educação que estão nas universidades cobram dos professores
do ensino fundamental e médio que a ação avaliativa seja freqüente ao longo do
processo de ensino-aprendizagem mais fazem justamente ao contrário através dos
vestibulares e do ENEM, ou seja, condenam a avaliação bimestral ou o “provão”
mais o que seria um vestibular? Pelo menos, a maioria das provas são bimestrais
e os vestibulares?
Outro
ponto a ser refletido é como uma prova feita em quatro horas, cinco horas pode
ser capaz de avaliar o aprendizado escolar que dura no mínimo 12 (doze) anos!
Ora, isso é injusto e totalmente surreal. Imagine a provação sobre um estudante
que tem sua carreira escolar de tantos anos definida por uma “prova” feita por
um professor que nunca viu. Quantos casos conheço de estudantes que se
prepararam durante anos e na hora do vestibular esqueceram tudo - deu branco,
como dizem – ou simplesmente passaram por alguma enfermidade como dor de
cabeça, diarréia atrapalhando seu desempenho na hora da prova.
Finalizando, mencionaremos um artigo do
grande educador Lauro de Oliveira Lima, intitulado “Vestibular”, publicado no
jornal "O Povo" de Fortaleza, no ano de 1990, que esclarece sua
posição sobre esta metodologia criada em 1911, há cento e um anos atrás.
“Todo
mundo sabe que o exame vestibular é o processo mais inautêntico possível para
avaliar quem deve entrar na Universidade, com uma agravante: a ameaça do exame
vestibular corrompe o sistema escolar todo, a partir do jardim de infância -
basta lembrar a múltipla escolha e as cruzadinhas adotadas em todos os graus,
cursos e séries. Dez anos de escolaridade são desprezados, com centenas de
avaliações parciais, por algumas horas de provas cujos resultados são
aleatórios.
O exame vestibular é uma desmoralização
para o magistério (...) não entendo porque o magistério jamais protestou contra
esta desmoralização. Os julgamentos feitos nos doze anos de escolaridade são
suspeitos! Milhares de professores promovem alunos, dão notas, avaliam seu
aproveitamento... tudo em vão? Será que uma comissão de professores tem mais
credibilidade para determinar o ingresso dos mais capazes na Universidade?
Por
que não valorizar os resultados escolares desde o primeiro ano, ano por ano,
acumulando-se as avaliações que se irão auto-corrigindo? São dezenas de mestres
opinando sobre o aluno, durante doze anos. Poder-se-ia mesmo introduzir um
julgamento referente à capacidade do aluno e um prognóstico sobre sua futura
vida escolar. Desde cedo os pais tomariam conhecimento das probabilidades de
seu filho conquistar a Universidade. (...) Poderiam interpelar os mestres sobre
os julgamentos feitos, dando extrema seriedade ao diagnóstico, agora vigiado
pela sociedade. O sistema escolar ganharia um novo tônus. Sabendo-se que os
resultados parciais, ao longo da escolaridade, são contabilizados para o
ingresso na Universidade, todos darão maior seriedade ao processo escolar”
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