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quinta-feira, 30 de junho de 2011

O médico, o professor e o salário.

 
O Médico no Brasil
- Alô?
- Pois não?
- Gostaria de marcar um consulta com o Dr. Hipócrates.
- Para quando?
- Essa semana ainda.
- Ele tem horário só na sexta às quatro horas da tarde. Pode ser?
- Não tem outro horário? Pois á tarde estou lecionando.
- Não tem não senhor.
- Tudo bem, pode marcar.
- Qual convênio é?
- Não moça é particular.
- Então a consulta fica em R$ 250,00.
- Tem como ele me dar nota?
- Aí a consulta vai para R$ 300,00.
- Ok, tudo bem então.
O professor na Coréia do Sul

De acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), um professor experiente de ensino fundamental ganha na Coréia do Sul um salário mensal médio de 6.000 dólares, numa medição internacional que leva em conta o poder de compra no país. É sete vezes mais dinheiro do que embolsa um profissional brasileiro de mesmo nível. Trata-se de uma carreira que confere status. Uma pesquisa feita pela Universidade de Seul chegou a uma conclusão interessante sobre o assunto: para as mulheres da Coréia, o professor é visto como o "melhor partido para casar" porque tem emprego estável, férias longas (raridade no país), jeito para lidar com crianças – e ótimo salário.  (Fonte http://veja.abril.com.br/160205/p_060.html acesso em 27/06/11)


O Brasil e a Coréia do Sul já foram nações similares. Na segunda metade do século XX, as duas nações eram típicas nações do mundo subdesenvolvido, mergulhadas em índices sociais calamitosos e com taxas de analfabetismo que beiravam os 35%. Na época, a renda per capita coreana equivalia à do Sudão: patinava em torno de 900 dólares por ano. Nesse aspecto, o Brasil levava alguma vantagem, apresentando uma renda per capita que equivalia ao dobro da coreana. Hoje, passados cinqüenta e um anos, um abismo colossal separa as duas nações. A Coréia do Sul exibe uma economia que anda a galopadas praticamente triplicando a cada nova década. Sua renda per capita cresceu dezenove vezes desde os anos de 1960, e a sociedade atingiu um patamar de bem-estar social invejável. Os sul-coreanos praticamente erradicaram o analfabetismo e colocaram 82% dos seus jovens na universidade. Já o Brasil mantém 13% de sua população no analfabetismo e tem apenas 18% dos estudantes na universidade. Sua renda per capita é hoje menos da metade da coreana. Em suma, o Brasil ficou anos-luz para trás e a Coréia largou em disparada ladeira acima. Mas, por que isso aconteceu? Porque a Coréia apostou no investimento maciço na medicina? É óbvio que não. Enquanto os sul-coreanos despejavam dinheiro nas escolas públicas de ensino fundamental e médio, o Brasil preferia canalizar seus pífios recursos para a universidade e inventar projetos espalhafatosos na área de saúde a cada troca de governo.
Assim, um dos graves problemas educacionais no Brasil está na média salarial da maioria dos docentes que lecionam em nosso país.
E o pior não é isso. Se compararmos as diferenças salariais da maioria dos médicos e docentes que atuam no ensino fundamental, aí a questão se torna mais desanimadora, pois as diferenças de valores são estratosféricos.
A partir disso, a leitura dessa constatação é simples. Há uma valorização excessiva da carreira de medicina, em contrapartida, há uma desvalorização absurda da carreira docente e isso nos leva a outra grave constatação. Enquanto não tivermos no Brasil uma política salarial e de valorização digna para os docentes, a educação não sofrerá melhorias. Enquanto médicos tiverem salários absurdamente altos e docentes tiverem salários absurdamente baixos - a maioria dos médicos ganha em um mês o que a maioria dos docentes leva dois anos ou mais para ganhar - o país não se desenvolverá. Em síntese: o Brasil precisa atualmente de mais docentes capacitados do que médicos bem remunerados, já que como escrevia Paulo Freire “Ninguém nega o valor da educação e que um bom professor é imprescindível. Mas, ainda que desejem bons docentes para seus filhos, poucos pais desejam que seus filhos sejam docentes. Isso nos mostra o reconhecimento que o trabalho de educar é duro, difícil e necessário, mas que ainda permitimos que esses profissionais continuem sendo desvalorizados. Apesar de mal remunerados, com baixo prestígio social e responsabilizados pelo fracasso da educação, grande parte resiste e ainda continua apaixonada pelo seu trabalho. Avante docentes...

2 comentários:

  1. Excelente texto, Alex. Gostei muito do seu blog, pois tenho pensado exatamente nas mesmas questões, especialemente quando saí do "maravilhoso" mundo acadêmico e fui enfrentar a sala de aula. Não é fácil mesmo. O salário pode ficar somente razoável, mas a carga de trabalho é imensa, e o reconhecimento minúsculo. Eu creio que a profissão médica é romantizada: o trabalho também é muito grande e o salário não é lá essas coisas. Acho que o melhor é compararmos com outras distorções, como o fato de as ocupações com menos escolaridade estarem com salários em alta enquanto o dos professores continua estagnado. Veja o vídeo abaixo, é bem legal. http://youtu.be/TLUgk17V4c4
    Realmente, é preciso muito amor para continuarmos.Espero podemos continuar trocando ideias sobre nossas angústias docentes. Parabéns pelo seus textos! Um abraço!

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  2. Olá Marcelão tudo bem?
    Quanto tempo...Muito obrigado pelo seu comentário foi muito gentil de sua parte.Obrigado também pelo link do vídeo, o documentário realmente é muito bom. Sobre o texto, escrevi outro discutindo sobre futebol e educação(http://peloscaminhosdahistoria.blogspot.com/2010/11/paixao-e-futebol-e-tudo-por-culpa-da.html), mais ou menos, a situação que você ponderou sobre algumas profissões com menor grau de escolaridade e salários astronômicos.Aliás você tem blog ou algo parecido? Se tiver me passe.Abraços

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