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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Neymar e o progresso do Brasil.



Nessa última sexta-feira foi concretizada a tão especulada transação do futebol brasileiro. Neymar acaba de se transferir para o futebol espanhol e vai vestir a camiseta azul-grená pelos menos durante as cinco próximas temporadas pelo Barcelona.
O salário ganho por Neymar para cada temporada será de sete milhões de euros por ano, o que dá em reais cerca de dezoito milhões por ano. Se fosse vestir a camisa do adversário, o Real Madri, Neymar ganharia ainda mais, cerca de vinte e nove milhões de reais por ano.
Não há nada de errado em um atleta de futebol ganhar um salário astronômico por um trabalho honesto como esse. Doravante, Neymar está indo trabalhar em um país que vem atravessando uma profunda crise econômica em que mais da metade da população jovem está desempregada. E Neymar é jovem! Mas mesmo assim, tanto o espanhol como o brasileiro independentemente da situação econômica atravessada pelo país, ainda consome esse produto chamado “futebol” as parcas.
Como nós brasileiros alimentamos uma indústria gigantesca como a futebolística e concomitantemente remuneramos mal nossos professores, atores ou mesmo atletas das mais diversas modalidades olímpicas?
Assim, qual dessas classes trabalhadoras colabora de maneira incisiva para o progresso do país: os professores, intelectuais, escritores, médicos, advogados, atores, músicos ou os jogadores de futebol como Neymar?
É extremamente preocupante como a indústria do entretenimento é recheada por cifras astronômicas enquanto pessoas como Patativa do Assaré, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Lauro de Oliveira Lima, Demétrio Magnoli, entre tantos outros que pensaram e repensarem esse país a sua maneira, nunca estiveram ou estarão com suas faces estampadas em todos os jornais televisivos ou impressos, como aconteceu com Neymar nesse último final de semana e jamais ganharam ou ganharão nem a milésima parte do que esse jovem de vinte e um anos já ganhou.
Contudo,fico ilusoriamente com Patativa do Assaré que nunca deixou de ser agricultor e de morar na mesma região onde se criou (Cariri) no interior do Ceará. Indagado, se nunca deixaria o Nordeste pela baixa economia da região, ele respondeu: “Não sou eu que tenho que deixar essa região por não ser muito rica, é a riqueza que tem que chegar por essas bandas de cá”. Vai Neymar, os euros do futebol lhe aguardam... 







quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Greve é nossa. Sociedade, a culpa é sua.






Nessa última sexta-feira (dia 19) vários professores estaduais estiveram em São Paulo em uma assembleia para discutirem as condições e reivindicações acerca do trabalho ocorrido em todas as escolas do estado de São Paulo.
Por fim, resolveram por maioria dos ali presentes, decretarem greve por tempo indeterminado a partir de segunda-feira dessa semana (dia 22).
Entre o material distribuído pela APEOESP (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) às escolas estaduais, conclamando os professores a aderirem à greve, existe o slogan “A greve é nossa. Governador, a culpa é sua”.
Nesses dez anos que estou como professor da rede pública do estado de São Paulo já participei de várias greves e paralisações. Algumas tiveram suas benesses outras nem tanto. Contudo, nenhuma greve da qual participei provocou mudanças estruturais no caduco sistema educacional paulista por um motivo capital: o sindicato dos professores insiste na culpabilidade do governo paulista pela precária educação estatal, o que é um erro. A culpa não é do Governador, não é minha, não é do ET de Varginha, (nem poderia ser, pois Varginha se encontra no estado de Minas Gerais), não é da progressão continuada, não é da família, não é do neoliberalismo, é de todos nós.
Á lógica é clara: toda escola estadual pública não é do governo, é da sociedade. O governo só a administra por um tempo. E quem escolhe o governo? A sociedade. Ou seja, a escola estadual pública é da sociedade, feita para a sociedade, e administrada por quem à sociedade escolheu.
Deste modo, todos somos culpados e concomitantemente vítimas pela péssima qualidade educacional de São Paulo, pois a educação escolar ocupa lugar secundário nas discussões sociais e estas quando ocorrem são carregadas de silogismos banais através de uma verborragia anencéfala e sem nenhum sentido, como diria Lobão.
Uma greve só trará mudanças necessárias e não mais pontuais, quando os diálogos e dizeres forem estes:
“A greve é nossa. Sociedade, a culpa é sua”. Eis seus representantes que declaramos culpados pela péssima educação paulista:
(1) as inúmeras famílias que se abstém da educação primária de seus filhos, delegando a escola suas responsabilidades primordiais;
(2) os inúmeros empresários que vem na educação não um projeto de transformação social, mas uma rica fonte de dinheiro;
(3) os inúmeros veículos de informação, que dispõe de telejornais, programas ou cadernos de esporte, economia, entretenimento, sendo em sua maioria banais preocupados em transmitirem resumos de novelas ou reality show escrotos, ao invés de discutirem sobre a qualidade educacional atualmente;
(4) o governo, que insiste em uma gestão educacional meritocrática e amadora;
(5) as inúmeras escolas e gestores que prestam uma subserviência total e silenciosa a essa gestão educacional meritocrática e amadora;
(6) os inúmeros professores que não dão a mínima para qualidade educacional e só pensam no salário em suas contas bancárias ao final do mês.
(7) os vários “Zés das esquinas” que preferem vender pinga em seu botecos para menores de idade, do que olhar as tarefas de seu filho feitas com carinho em seu caderno;
(8) o poder judiciário, que por meio de seus vários representantes persevera no zelo pela ordem tribal, aonde o caos impera há tempos.
(9)... e por aí vai.


Portanto, culpabilizar o governo paulista é reduzir uma responsabilidade social de todos nós. Quem deveria fazer greve educacional é a sociedade e não somente os professores. Enquanto nós seres dotados de um mínimo de intelectualidade não entendermos - que a educação não é a única viés transformadora de toda a sociedade, mas tampouco, a sociedade se transformará para melhor sem ela - o panelaço irá continuar ecoando, nas vozes de poucos guerreiros mortais...