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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

O Serviço Social e a Educação



O Serviço Social criado em 1933 no Brasil, representa hoje uma das contribuições sine qua non mais significativas e importantes para a sociedade brasileira e mais especificamente para a educação brasileira, mas que infelizmente a máquina pública e a maioria dos que se enquadram nela não sabem utilizá-la.
Primeiramente, o Serviço Social é um curso na área das humanidades e por conta disso sua principal função é colaborar com o processo de transformação da sociedade através da sua atuação. Assim sendo, as boas universidades e faculdades de Serviço Social têm no centro de seu curso discussões de autores como Marx, Webber, Gramsci, Foucault, Pedro Demo, Paulo Freire, Celso Furtado e tantos outros.
Porém, infelizmente a maioria dos assistentes sociais após a sua formatura confrontam com uma triste realidade. Longas discussões acaloradas, embate de idéias, seminários, metanóia, toda a reflexão acerca do comportamento do homem como ser social e como colaborar com o mesmo em seu processo de mudança discutido ao longo dos anos de estudo dá lugar à instrumentalização totalmente técnica da profissão, ou seja, o assistente social é visto por grande parte dos gestores federais, estaduais e municipais e também por boa parte dos juízes como técnico emitindo pareceres e só. Desse modo, o lugar da atuação do assistente social passa a ser atrás de um balcão ou mesa como um burocrata preenchendo papéis sobre condições socioeconômicas de famílias, realizando estudo social para concessão de benefícios tais como: medicamentos, óculos, órteses, complementação alimentar, auxílio-moradia, energia, água, próteses, cartão alimentação e realizando avaliação sócio-econômica para inclusão em programas sociais como: renda cidadã e bolsa família e mais o que sua imaginação mandar. 
Através dessa visão errônea que a máquina pública - e quase todos do que dela fazem parte - possui do assistente social eles acabam por decretar o fim dos sonhos desses profissionais em almejar por uma sociedade justa e fraterna, ou seja, para quem estuda Marx ficar atrás de um balcão concedendo benefícios sociais é no mínimo ultrajante! Grosso modo, é como pedir ao professor para ficar todo o ano letivo preenchendo cadernetas. Piaget? Paulo Freire? Esqueça tudo isso. O importante é caderneta preenchida e ponto. Uma coisa é algo fazer parte do trabalho, outra coisa é pensar que o algo é puramente o trabalho em si.
Além desse primeiro aspecto, essa visão errônea que quase todos os gestores em qualquer esfera do poder público possuem do assistente social, acabam obrigando-os na maioria das vezes a prestarem um (des) serviço à sociedade, como ocorre na África no quais especialistas vêm analisando seriamente a possibilidade de que as doações mais atrapalham do que ajudam a população africana. A idéia pode parecer absurda à primeira vista, afinal, estamos falando de dinheiro enviado a uma sociedade pobre cuja economia deveria ser beneficiada. Porém, a consequência desse auxílio é o sufocamento de pequenas iniciativas de comércio em razão da grande oferta gratuita. Um exemplo bastante ilustrativo é o do empresário americano Jason Sadler que, em 2010, criou uma campanha para arrecadar camisetas que seriam enviadas a crianças na África. Tanto ou mais do que as gigantescas doações, Sadler foi bombardeado por críticos que diziam que essas peças de roupas enviadas ao continente iriam debilitar a competitividade de todos os comerciantes de tecidos e roupas locais. Afinal, quem iria gastar com uma peça que pode ser obtida de graça? Os negócios iriam à falência e, a longo prazo, os filhos desses empresários continuariam sempre dependentes da boa vontade alheia. (Revista Veja 20/08/2011).
Subjugar o assistente social a mero “concessor de benefícios” é irritante e escárnio. Destarte, além de todo o reducionismo imposto a sua profissão, o assistente social no Brasil se vê humilhado - em meio a um jogo sujo-politiqueiro que ocorre principalmente às vésperas das eleições – sendo obrigado a conceder benefícios a pessoas por questões politiqueiras ou de fidelidade partidária ou quando concomitantemente muitos de seus relatórios são completamente ignorados pelos mesmos motivos politiqueiros. Obviamente que toda essa atitude influencia na opinião negativa que grande parte da população possui sobre o assistente social visto ora como um “vilão” que cortará benefícios, ora como um “juiz carrasco” que retirará guardas de crianças indefesas. Não é a toa que muitos desses profissionais são agredidos verbalmente e fisicamente por pessoas ignorantes e maldosas que não entendem que na maioria das vezes o problema é orgânico e que o assistente social é só a ponta de um iceberg gigantesco e incólume.
Já na área educacional, ainda que vários municípios possuam assistentes sociais em escolas de educação infantil e fundamental, na maioria das vezes a inserção do trabalho desses profissionais não considera sua capacidade de transformação social. Leva-se em conta, mais uma vez, somente sua capacidade técnica em emitir pareceres e mais pareceres, relatórios e mais relatórios.
A contribuição do Serviço Social na educação vai muito além disso. Em vez do trabalho do assistente social se limitar a discernir em quem deva receber algum benefício ou não a verdadeira atuação do assistente social seria como uma espécie de tutor na mediação da problemática financeira da família buscando uma resolução. Em vez da concessão de algum benefício porque não ir à raiz do problema, ou seja, porque a família precisa daquele benéfico e como ajudá-la a sair de uma situação de vulnerabilidade social que se encontra naquele momento?
Óbvio que o trabalho do assistente social não é fácil como o do professor também não.
Contudo, apesar de todos esses problemas refletidos vejo no horizonte algumas ações (mesmo que paliativas) da verdadeira atuação (penso eu) do assistente social na sociedade e principalmente na educação. Tomara que nossos gestores nas esferas federais, estaduais e municipais – principalmente ligados a educação - entendam da importância desse profissional para nós educadores e que a presença em cada escola de um ou de vários assistentes sociais, se torne imprescindível não para resolver problemas disciplinares, entre outros, como infelizmente ocorrem na maioria das escolas por esse Brasil afora, mas para trabalharem com grupos, formando cidadãos afim de que problemas sociais tão graves não surjam a posteriori e que finalmente todos os profissionais dessa área voltem às raízes dessa profissão tão nobre surgida no seio da Igreja Católica que tem como expoentes pessoas como Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce que tanto souberam “cuidar” dos menos favorecidos...

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