O
Serviço Social criado em 1933 no Brasil, representa hoje uma das contribuições sine qua non mais significativas e
importantes para a sociedade brasileira e mais especificamente para a educação
brasileira, mas que infelizmente a máquina pública e a maioria dos que se
enquadram nela não sabem utilizá-la.
Primeiramente,
o Serviço Social é um curso na área das humanidades e por conta disso sua
principal função é colaborar com o processo de transformação da sociedade através
da sua atuação. Assim sendo, as boas universidades e faculdades de Serviço
Social têm no centro de seu curso discussões de autores como Marx, Webber, Gramsci,
Foucault, Pedro Demo, Paulo Freire, Celso Furtado e tantos outros.
Porém,
infelizmente a maioria dos assistentes sociais após a sua formatura confrontam
com uma triste realidade. Longas discussões acaloradas, embate de idéias,
seminários, metanóia, toda a reflexão acerca do comportamento do homem como ser
social e como colaborar com o mesmo em seu processo de mudança discutido ao
longo dos anos de estudo dá lugar à instrumentalização totalmente técnica da
profissão, ou seja, o assistente social é visto por grande parte dos gestores
federais, estaduais e municipais e também por boa parte dos juízes como técnico
emitindo pareceres e só. Desse modo, o lugar da atuação do assistente social
passa a ser atrás de um balcão ou mesa como um burocrata preenchendo papéis
sobre condições socioeconômicas de famílias, realizando estudo social para
concessão de benefícios tais como: medicamentos, óculos, órteses, complementação
alimentar, auxílio-moradia, energia, água, próteses, cartão alimentação e
realizando avaliação sócio-econômica para inclusão em programas sociais como:
renda cidadã e bolsa família e mais o que sua imaginação mandar.
Através
dessa visão errônea que a máquina pública - e quase todos do que dela fazem
parte - possui do assistente social eles acabam por decretar o fim dos sonhos
desses profissionais em almejar por uma sociedade justa e fraterna, ou seja,
para quem estuda Marx ficar atrás de um balcão concedendo benefícios sociais é
no mínimo ultrajante! Grosso modo, é como pedir ao professor para ficar todo o
ano letivo preenchendo cadernetas. Piaget? Paulo Freire? Esqueça tudo isso. O
importante é caderneta preenchida e ponto. Uma coisa é algo fazer parte do
trabalho, outra coisa é pensar que o algo é puramente o trabalho em si.
Além
desse primeiro aspecto, essa visão errônea que quase todos os gestores em
qualquer esfera do poder público possuem do assistente social, acabam obrigando-os
na maioria das vezes a prestarem um (des) serviço à sociedade, como ocorre na
África no quais especialistas vêm analisando seriamente a possibilidade de que
as doações mais atrapalham do que ajudam a população africana. A idéia pode parecer absurda à primeira
vista, afinal, estamos falando de dinheiro enviado a uma sociedade pobre cuja
economia deveria ser beneficiada. Porém, a consequência desse auxílio é o
sufocamento de pequenas iniciativas de comércio em razão da grande oferta
gratuita. Um exemplo bastante ilustrativo é o do empresário americano Jason
Sadler que, em 2010, criou uma campanha para arrecadar camisetas que seriam
enviadas a crianças na África. Tanto ou mais do que as gigantescas doações, Sadler
foi bombardeado por críticos que diziam que essas peças de roupas enviadas ao
continente iriam debilitar a competitividade de todos os comerciantes de
tecidos e roupas locais. Afinal, quem iria gastar com uma peça que pode ser
obtida de graça? Os negócios iriam à falência e, a longo prazo, os filhos
desses empresários continuariam sempre dependentes da boa vontade alheia. (Revista Veja 20/08/2011).
Subjugar o assistente social a mero “concessor de
benefícios” é irritante e escárnio. Destarte, além de todo o reducionismo
imposto a sua profissão, o assistente social no Brasil se vê humilhado - em
meio a um jogo sujo-politiqueiro que ocorre principalmente às vésperas das
eleições – sendo obrigado a conceder benefícios a pessoas por questões
politiqueiras ou de fidelidade partidária ou quando concomitantemente muitos de
seus relatórios são completamente ignorados pelos mesmos motivos politiqueiros.
Obviamente que toda essa atitude influencia na opinião negativa que grande
parte da população possui sobre o assistente social visto ora como um “vilão”
que cortará benefícios, ora como um “juiz carrasco” que retirará guardas de
crianças indefesas. Não é a toa que muitos desses profissionais são agredidos
verbalmente e fisicamente por pessoas ignorantes e maldosas que não entendem
que na maioria das vezes o problema é orgânico e que o assistente social é só a
ponta de um iceberg gigantesco e incólume.
Já
na área educacional, ainda que vários municípios possuam assistentes sociais em
escolas de educação infantil e fundamental, na maioria das vezes a inserção do
trabalho desses profissionais não considera sua capacidade de transformação
social. Leva-se em conta, mais uma vez, somente sua capacidade técnica em
emitir pareceres e mais pareceres, relatórios e mais relatórios.
A
contribuição do Serviço Social na educação vai muito além disso. Em vez do
trabalho do assistente social se limitar a discernir em quem deva receber algum
benefício ou não a verdadeira atuação do assistente social seria como uma
espécie de tutor na mediação da problemática financeira da família buscando uma
resolução. Em vez da concessão de algum benefício porque não ir à raiz do
problema, ou seja, porque a família precisa daquele benéfico e como ajudá-la a
sair de uma situação de vulnerabilidade social que se encontra naquele momento?
Óbvio
que o trabalho do assistente social não é fácil como o do professor também não.
Contudo,
apesar de todos esses problemas refletidos vejo no horizonte algumas ações
(mesmo que paliativas) da verdadeira atuação (penso eu) do assistente social na
sociedade e principalmente na educação. Tomara que nossos gestores nas esferas
federais, estaduais e municipais – principalmente ligados a educação - entendam
da importância desse profissional para nós educadores e que a presença em cada
escola de um ou de vários assistentes sociais, se torne imprescindível não para
resolver problemas disciplinares, entre outros, como infelizmente ocorrem na
maioria das escolas por esse Brasil afora, mas para trabalharem com grupos,
formando cidadãos afim de que problemas sociais tão graves não surjam a
posteriori e que finalmente todos os profissionais dessa área voltem às raízes
dessa profissão tão nobre surgida no seio da Igreja Católica que tem como
expoentes pessoas como Madre Teresa de Calcutá e Irmã Dulce que tanto souberam
“cuidar” dos menos favorecidos...
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