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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A resistência e a compaixão



Sou professor há sete anos. Durante todo esse tempo lecionei em quase todas as escolas públicas e particulares do município de Guaíra, seja no ensino fundamental ou no ensino médio. Tenho orgulho do trabalho que desenvolvi em todas as escolas que passei e espero ter deixado uma sementinha plantada no coração da maioria dos alunos que tive ao longo de todo esse tempo.
Assim, sou grato a todas as escolas nas quais lecionei, mas devo minha gratidão maior a duas dessas escolas: a E.E.Dalva Lellis Garcia Prado e a Escola Maria Peregrina. Essas duas escolas me ensinaram e continuam ensinando as duas maiores qualidades de um educador: a resistência e a compaixão.
Quando escrevo resistência estou me referindo à capacidade que um educador tem de suportar, reagir e tornar sólido todos os seus sonhos e desejos e quando escrevo compaixão estou me referindo à capacidade que um educador tem de compadecer, sofrer com seus alunos. Percebo que essas duas escolas têm ensinado a todos nós que lá lecionamos essas duas qualidades. Fico profundamente admirado com os professores que encaram com seriedade sua missão e que lecionam nessas duas escolas, pois não é fácil, ao contrário, é a mais árdua de todas as tarefas, pois é uma vocação para poucos.
Sendo assim, todo o conhecimento metodológico e tudo o que sou hoje foi fruto de inúmeras noites em claro que passei e continuo passando tentando solucionar o desafio que é ser um educador nessas duas escolas. E a cada noite mal dormida, vejo como é possível realizar algo por meus alunos que lá estão.
Contudo, já presenciei inúmeras conversas em que professores argumentam sobre alguns educadores famosos e a capacidade que eles teriam ou não de trabalhar nessas duas escolas ou em qualquer escola pública na atualidade. Tenho a convicção de afirmar uma verdade muito mais profunda. Todos os educadores que fazem parte da história da educação mundial e brasileira que conheço não só lecionariam nessas duas escolas como as escolheriam como o local de seu trabalho. Por quê? Pelo desafio, pela vocação e pela compaixão. Um exemplo? Paulo Freire. Paulo Freire com absoluta certeza escolheria essas duas escolas como local de seu trabalho em Guaíra, vislumbrando nelas a sua real capacidade de educar como fez em tantos outros lugares como o sertão nordestino e o continente africano.
Outro exemplo? Maria Montessori. Essa médica italiana trabalhou com crianças órfãs, analfabetas e pobres durante o regime de Mussolini na Itália. Outro exemplo? Ron Clark. Esse professor americano escolheu por vontade própria trabalhar na pior escola do Harlem em Nova York e fez um trabalho belíssimo. Hoje ele possui uma Academia, a “Ron Clark Academy”. Um último exemplo? O meu educador favorito: Janusz Korczak. Korczak foi um educador polonês que não inventou nenhuma metodologia diferente ou prática docente distinta, ele só fez uma coisa por seus alunos: os amou tanto que no dia 5 de agosto de 1942, soldados alemães em plena Segunda Guerra Mundial levaram as cerca de 200 crianças que estavam em seu orfanato para o campo de concentração de Treblinka, e Korczak mesmo tendo a possibilidade de fugir preferiu acompanhar suas crianças até todos serem mortos em uma câmara de gás. Portanto, todo educador é formado na adversidade e cabe a todos nós utilizarmos dela para o nosso próprio crescimento como seres humanos.

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