Sou
professor há sete anos. Durante todo esse tempo lecionei em quase todas as
escolas públicas e particulares do município de Guaíra, seja no ensino
fundamental ou no ensino médio. Tenho orgulho do trabalho que desenvolvi em todas
as escolas que passei e espero ter deixado uma sementinha plantada no coração
da maioria dos alunos que tive ao longo de todo esse tempo.
Assim,
sou grato a todas as escolas nas quais lecionei, mas devo minha gratidão maior
a duas dessas escolas: a E.E.Dalva Lellis Garcia Prado e a Escola Maria
Peregrina. Essas duas escolas me ensinaram e continuam ensinando as duas maiores
qualidades de um educador: a resistência e a compaixão.
Quando
escrevo resistência estou me referindo à capacidade que um educador tem de
suportar, reagir e tornar sólido todos os seus sonhos e desejos e quando
escrevo compaixão estou me referindo à capacidade que um educador tem de
compadecer, sofrer com seus alunos. Percebo que essas duas escolas têm ensinado
a todos nós que lá lecionamos essas duas qualidades. Fico profundamente
admirado com os professores que encaram com seriedade sua missão e que lecionam
nessas duas escolas, pois não é fácil, ao contrário, é a mais árdua de todas as
tarefas, pois é uma vocação para poucos.
Sendo
assim, todo o conhecimento metodológico e tudo o que sou hoje foi fruto de
inúmeras noites em claro que passei e continuo passando tentando solucionar o
desafio que é ser um educador nessas duas escolas. E a cada noite mal dormida,
vejo como é possível realizar algo por meus alunos que lá estão.
Contudo,
já presenciei inúmeras conversas em que professores argumentam sobre alguns
educadores famosos e a capacidade que eles teriam ou não de trabalhar nessas
duas escolas ou em qualquer escola pública na atualidade. Tenho a convicção de
afirmar uma verdade muito mais profunda. Todos os educadores que fazem parte da
história da educação mundial e brasileira que conheço não só lecionariam nessas
duas escolas como as escolheriam como o local de seu trabalho. Por quê? Pelo
desafio, pela vocação e pela compaixão. Um exemplo? Paulo Freire. Paulo Freire
com absoluta certeza escolheria essas duas escolas como local de seu trabalho
em Guaíra, vislumbrando nelas a sua real capacidade de educar como fez em
tantos outros lugares como o sertão nordestino e o continente africano.
Outro
exemplo? Maria Montessori. Essa médica italiana trabalhou com crianças órfãs,
analfabetas e pobres durante o regime de Mussolini na Itália. Outro exemplo? Ron
Clark. Esse professor americano escolheu por vontade própria trabalhar na pior
escola do Harlem em Nova York e fez um trabalho belíssimo. Hoje ele possui uma
Academia, a “Ron Clark Academy”. Um último exemplo? O meu educador favorito: Janusz
Korczak. Korczak foi um educador polonês que não inventou nenhuma metodologia
diferente ou prática docente distinta, ele só fez uma coisa por seus alunos: os
amou tanto que no dia 5 de agosto de 1942, soldados alemães em plena Segunda
Guerra Mundial levaram as cerca de 200 crianças que estavam em seu orfanato para
o campo de concentração de Treblinka, e Korczak mesmo tendo a possibilidade de
fugir preferiu acompanhar suas crianças até todos serem mortos em uma câmara de
gás. Portanto, todo educador é formado na adversidade e cabe a todos nós
utilizarmos dela para o nosso próprio crescimento como seres humanos.
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