Hoje em dia estamos
vivendo uma “Tacocracia”, ou seja, estamos vivendo uma “Ditadura do Rápido” e as conseqüências disto são desastrosas.
Comecemos pela
família. As famílias de nossos pais e de nossos avós tinham como centro da casa
a taipa do fogão de lenha e a mesa de jantar, na qual todos comiam juntos,
olhavam–se e discutiam assuntos importantes ou banais. As crianças brincavam
com a comida (embora com comida nunca se brinque, ainda mais em um país com uma
desigualdade social extrema como o nosso), enfim, tudo era uma festa só.
A família de hoje tem
como o centro da casa não mais a mesa de jantar ou a taipa do fogão, mas a
televisão de plasma de 42
polegadas com controle remoto luminoso. Na hora do
almoço - se é que ela existe – cada um come no seu território demarcado no sofá
assistindo a um programa de televisão. Detalhe: nem precisam levantar para
mudar de canal, o controle remoto faz tudo. Depois de se alimentarem voltam
todos a sua rotina escaldante, afinal de contas “tempo é dinheiro”.
Na escola não é
diferente. Lembro-me com prazer de quando estudava na escola Francisco Gomes de
Souza dos maravilhosos livros da série Vagalume: A montanha encantada, A
ilha perdida, O rapto do garoto dourado, Zezinho, o dono da porquinha preta
e tantos outros que lia com o maior prazer do mundo...
Na escola de hoje,
se o professor pede para que um aluno leia e faça um resumo do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas de
Machado de Assis, o aluno aparece no dia seguinte com um resumo extraído de
algum site na internet. Para um aluno hoje ler 130 páginas de um livro é “perca
de tempo” ou acontece o pior... Ele aparece dizendo: “Professor por causa de
você eu perdi o meu final de semana inteiro lendo o livro que você pediu”. Para
o aluno ele não ganhou conhecimento, cultura, mas perdeu o seu precioso e
inestimado “tempo”.
Na sociedade
acontece o mesmo. Lembro-me de uma frase escrita em uma camiseta há tempos
atrás: “Viva todos os dias de sua vida como se fosse o último, pois um dia você
acerta”. As pessoas hoje buscam o prazer pelo prazer. Tenho que ser feliz hoje,
dizem elas, pois o amanhã não se sabe. Esta forma de ver as coisas e o mundo simplesmente
está matando a nossa juventude. Os jovens de hoje não tem sonhos, nem para o
outro - seja ele a sociedade ou o seu vizinho – nem para si mesmo.
Em 2004 o psicólogo
da USP Yves de La Taillle
fez uma pesquisa em uma escola pública, com adolescentes dos três anos do
ensino médio. Inicialmente pediu para eles que escrevessem quanto quisessem
sobre o que desejariam ser, como gostariam de viver, imaginando-se daqui a dez
anos de maneira ideal. Portanto, a pergunta se inseria no campo ético,
focalizando a questão do projeto de vida. De posse dos textos, ele os dividiu
em dois grupos: aqueles cujo projeto de vida incluía o outro, fosse para o outro ou com o outro (claro que ele não considerou os casos em que havia
apenas uma instrumentalização do outro – eu quero ter uma mulher linda, um
marido rico etc.) e aqueles em que o outro não aparecia.
O resultado foi que
em um terço dos textos havia referência ao outro, mas em dois terços não. Ou
seja, dois terços daqueles adolescentes tinham projetos de vida em que o outro
não aparecia nem com, nem para, como também não havia menção á
idéia de justiça. Típico da idade? Não. Hoje é freqüente ouvir que adolescente
é autocentrado, mas se formos ler os textos sobre adolescentes da década de
1960, vamos notar que, muito pelo contrário, eles eram vistos como jovens
preocupados com a sociedade, com o futuro da humanidade. Aliás, não era esse o
tema central da contracultura?
Assim, não gosto de
refletir, por quais caminhos e aonde iremos chegar, pois acredito que o caminho
se faz caminhando. Hoje ando devagar porque um dia já tive pressa dizia Almir
Sater. E antes que o leitor já se inquiete com esse pequeno texto vou ficando
por aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário