Um dos sérios entraves que impedem o desenvolvimento de uma educação justa, libertadora e transcendental está na prática docente que vários educadores ainda persistem em utilizar nas escolas e que muitas vezes remontam as práticas docentes dos séculos XVIII e XIX.
Para fins nesse texto, entenda-se prática docente como o conjunto de ações elaboradas pelo educador que tenha como objetivo o avanço educacional e humano de todo e qualquer educando – a práxis pedagógica.
Mas o que impede todo educador de mudar ou melhorar sua prática docente?
Um primeiro ponto a se destacar é concernente ao fato de vários educadores argumentarem que a maioria dos alunos hoje não quer aprender. Deste modo, se não querem aprender, porque eu devo mudar? Então caímos na conhecida equação paradoxal em que “vários educadores fingem ensinar, enquanto vários alunos fingem aprender”. Ora, todo aluno quer aprender, conhecer, explorar algum assunto ou conceito, contudo, o que muitas vezes eles querem “aprender” não é aquilo que propomos a ensinar. Basta fazer uma experiência: pergunte aos seus alunos quantos querem aprender sobre “progressão aritmética” e quantos querem aprender como fazer para terminar o maior número possível de missões no jogo GTA (Grand Theft Auto). Assim sendo, não são os alunos que tem que mudar (e não vão), somos nós educadores! Os alunos que temos são esses e os educadores que eles têm muitas vezes são os de trinta anos atrás.
Um segundo ponto a se destacar, que muitas vezes impede o educador de mudar ou melhorar sua prática docente, é a sua incapacidade de reflexão sobre o papel atual de sua profissão. Todo educador hoje não pode continuar atuando como um “passador de conteúdo ou conhecimento”, mas como um mestre, descobridor de talentos e inteligências pertencentes e intrínsecas a cada um de seus discípulos (alunos). O principal objetivo de uma aula não deve ser mais o de ensinar “Grécia”, mas despertar nos alunos um gosto pela democracia, pela política, uma reflexão sobre a violência espartana seja estudando Grécia ou as missões contidas no jogo GTA. O caminho não importa o que importa é seu fim, sua finalidade.
Um terceiro ponto a se destacar é a falta de estrutura física e organizacional de boa parte das escolas públicas em nosso país. Como mudar minha prática docente, se na minha escola os computadores estão velhos e sucateados? Como mudar minha prática docente se na minha escola ainda não temos uma biblioteca e nem um laboratório decentes? Como mudar minha prática docente se tenho quarenta alunos em uma sala de aula? Para isso, o educador deve formular estratégias para que sua prática docente não dependa de todos esses aspectos físicos e organizacionais. Caso contrário, seu trabalho ficará “engessado”, e tais problemas serão sempre a sua justificativa para uma não mudança de postura educacional.
Não quero culpabilizar os educadores como fizeram e fazem muitos governos municipais, estaduais e federais pelas mazelas que a educação sempre atravessou no Brasil, aliás, eles são os principais responsáveis. Entretanto, nós educadores somos a vanguarda e devemos como tal, sempre repensarmos o papel que temos na educação e principalmente na sociedade atual.
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