Grande
parte dos docentes no Brasil e no mundo, seja na educação infantil, seja no
ensino superior ainda trazem como material primordial do seu trabalho uma dupla
que sempre fez muito sucesso ao longo dos anos nas “escolas” da vida: a voz e o
giz.
Contudo,
essa dupla já não vem fazendo tanto sucesso nos palcos brasileiros e mundiais.
A voz já não é a mesma. Era o tempo em que a voz era uníssona em um “palco” com
trinta, quarenta pessoas na platéia. Bons tempos aquele. A voz era respeitada
por que era simplesmente “a voz”. Não era uma voz qualquer. Era uma voz detentora
daquilo que havia de mais nobre no mundo: o conhecimento. A voz não se enraivava
e não se desgastava como hoje. Microfone? Pastilhas de menta? Que nada. A voz
era entoada pelos quatro cantos da sala numa melodia de fazer inveja a qualquer
bom maestro que se preze. Ela ecoava por cinqüenta minutos sendo jamais interrompida,
mas sentida, acolhida e removida para dentro dos corações ardentes pelo desejo
de escutá-la.
E
o que dizer do giz. O giz era a batuta da orquestra. Era ele que em tempos
atrás atraía os olhares da platéia para entender as fórmulas de que a vida é
composta. Era ele o responsável por elucidar as mais sublimes equações
matemáticas translúcidas diante de nossos olhares nos quadros negros da vida.
Podia ser ele amarelo, vermelho, branco ou azul, não importava, ele era a
potencialidade, a concretização do conhecimento através de inúmeros símbolos,
hieróglifos ou anagramas. Era o objeto de desejo de várias pessoas da platéia
ao final do espetáculo.
Mas
e hoje? Essa dupla ainda tem chance de continuar fazendo o grande sucesso que
fazia em tempos atrás? Infelizmente a resposta é não. Mas por quê? A vozes e os
gizes atuais são piores do que no passado? Não. O que mudou então? Simples, a
platéia. A platéia mudou, assim como os seus desejos que ela trás inseridos
dentro de si. A platéia atual não se emociona somente com voz e giz. É preciso
mais. É preciso conhecer seus desejos e anseios, aquilo que faça valer o preço
do ingresso que ela paga ao ir para o espetáculo todos os dias. A platéia atual
é impaciente, exigente e não se contenta com pouca coisa. Ela sempre espera
algo novo e surpreendente. A voz e o giz se tornaram insignificantes para ela.
Dificilmente suportam uma melodia ecoada por cinqüenta minutos, assim como
dificilmente suportam as equações matemáticas translúcidas em todos os quadros
negros a ela apresentada. A platéia de hoje não deseja por um espetáculo,
deseja por um show pirotécnico.
Assim,
o docente que ainda insistir em comover essas platéias com seus antigos
materiais de trabalho ficará demasiadamente frustrado, buscando entender o que
aconteceu com sua voz e seu giz. Ele chega a refletir que sua voz e o seu giz
continuam o mesmo, mas porque agora não são tão eficazes em comover a platéia?
Ele primeiramente precisa entender que não há nada de errado com sua voz e seu
giz. Elas não mudaram e aí está o problema, pois quem mudou foi à platéia!
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