A burrice mais crassa toma o poder no mundo. Claro que é uma generalização, mas a crescente complexidade da vida social, a superpopulação , o fracasso de ideologias, tudo leva ao declínio da esperança e conduz os homens a busca da "fé". A fé é aquilo em que acreditamos contra todas as evidencias. Cai o teto da igreja, os fieis morrem e os sobreviventes continuam a louvar Deus. E não só fé religiosa; mas política.
Depois de um momento de esperança, de que tudo mudaria com Obama, vemos como ele é barrado pela muralha da estupidez e em breve do racismo. A democracia com suas complexidade traz a fome de autoritarismo.
A grande sedução do simplismo (e do mal) é que ele é uno, com contornos concretos, visível. Mata-se um sujeito e ele vira uma "coisa" dominada.
Nada mais claro que um cadáver, decapitado no Iraque ou na favela do Rio. Por outro lado, a democracia, pressupõe tolerância, controle da parte maldita animal, implica em renuncias, e na angustiosa contemplação da diferença.
A estupidez, não: ela é clara, excitante, eficiente.
E´a vitória da testa curta, o triunfo das toupeiras. Inteligência é chata com seus labirintos. Inteligência nos desampara; burrice consola, explica. O bom asno é bem-vindo, o inteligente é olhado de esguelha. Na burrice, não há duvidas. A burrice não tem fraturas. A burrice alivia - o erro é sempre do outro. A burrice é mais fácil de entender. A burrice é mais "comercial". A burrice ativa e auto-confiante parece uma forma perversa de "liberdade". A burrice é a ignorância com fome de sentido. O problema é que a burrice no poder chama-se "fascismo". Há tempos, me impressionou a declaração de austríacos nazistas: "Votamos no Haider (o neonazista) porque não aguentamos mais a monotonia da política, o tédio do "bem", do "correto". Sente-se no ar uma fome de chefes. Ninguém se liga muito na liberdade fraternal. O sucesso planetário dos evangélicos, as massas delirando com ídolos de rock, com ditadores como Chávez, Ahmadjinnejad mostram a solidão da democracia diante dos anseios por slogans irracionais, pelo fundamentalismo da crueldade pratica, das "soluções finais".
Nos anos 60, havia o encantamento de uma nova era, com a glória da juventude, a alegria da democracia criativa; achávamos que a ciência e a arte iam nos trazer uma nova beleza de viver. Em 68, não foram apenas as revoltas juvenis que morreram; começou a uma vida congestionada, sem espaço para sutilezas de liberdade. 1968 virou o mundo para a direita, depois de um breve e claro instante. Assassinarem Luther King, Bob Kennedy, Praga livre foi massacrada. Na cultura, os anos 70 começaram com a frase profética de Lennon de que "o sonho acabara" e, logo depois, com a morte sintomática de Janis Joplin e Hendrix, com o fim dos Beatles e com a chegada dos caretas "embalos de sábado à noite". Parece bobagem, mas uma falsa "liberdade" careta (disfarçada de "revolta") virou o principal produto do mercado de massas - a volta da burrice foi triunfal.
Claro que o mundo está muito mais informado, comunicando-se horizontalmente, digitalizado pelos milagres da tecnologia da informação, internet etc...claro. Mas, os efeitos colaterais são imensos. Vejam nos twitter e orkuts da vida a burrice viajando na velocidade da luz.
Junto com a revolução da informação há a restauração alegre da imbecilidade. Lá fora, Forrest Gump, o heroi-babaca, foi o precursor; Bush foi seu sucessor, orgulhoso da própria burrice. Uma vez em Yale, ele disse: "Eu sou a prova de que os maus estudantes podem ser presidentes dos USA".
Atenção: não penso em Lula no Brasil, não. Ele é inteligentíssimo e tem a sagacidade de usar a ignorância não só como medalha de sucesso ( "Eu era ignorante e venci"), mas sabe também, brilhante e pragmático, que as plataformas políticas tem de ser obvias e de fácil leitura.
Vai explicar o que é "subperonismo" para as massas do Bolsa Família...
Daí, uma das razões para o "nada" da oposição atual tucana : a dificuldade de se formular uma plataforma suficientemente burra para ser entendida. No Brasil, contaminado pelo ar-do-tempo, a fome de simplismo domina a politica, a cultura e a vida social. Vivemos em suspense, pois o pensamento petista dominante entre acadêmicos e intelectuais (mesmo os que se opõem, têm medo de ser "contra") continua com a idéia de "confronto", de "luta de classes", de "tomada do poder", como tumores inoperáveis na cabeça.
Isto cria também entre nós apenas um ânimo de queixas e rancor diante da vitória acachapante do "lulismo". Não há mais polemicas; apenas a aceitação do atual governo como um destino inevitável.
Lula não é filho do Brasil não; é o "cavalo" do Brasil nele baixaram todos os desejos simplistas da população, que ele executa com maestria e maquiavelismo. Muita gente acha que a burrice é a moradia da verdade, como se houvesse algo de "sagrado" na ignorância dos pobres, uma sabedoria que pode desmascarar a "mentira inteligente" do mundo. Para eles, só os pobres de espírito verão Deus, como reza a tradição.
Lula pensou, brilhantemente:
"Sabe o que mais? O Brasil é burro demais para uma política sofisticada. Vou manter a macroeconomia que o FHC deixou e aceitarei toda a canalhice do sistema político; é a única maneira de governar". E´ incrível, porque a mistura de sorte na economia mundial com esta "sabedoria da ignorância" tem dado alguns bons resultados.
Há no ar uma fome de regressismo autoritário, como se do casebre com farinha, paçoca e violinha, viessem a solidariedade e a paz que deteria a marcha do mercado voraz. É espantoso, repito: um mundo cada vez mais complexo e evoluído na tecnociência anseia pela obviedade autoritária. Do Islã à velha esquerda queremos o maniqueísmo e o voluntarismo grosso.
Outro dia, vi um daqueles "bispos" de Jesus de terno-e-gravata na TV, clamando para uma multidão de fieis: "Não tenham pensamentos livres; o Diabo é que os inventa!"
Sei que os lulistas não podem nem ouvir falar em A. Jabor. Mas leio as colunas dele e me sinto em casa, feliz da vida em ver o que penso e sinto tao bem dito e refletido. Para mim, não tem pensador mais honesto e com melhor visão do que ele.
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