Eu não vou salvar o mundo...

Conta a História, que certa vez um soldado disse a Napoleão Bonaparte: "Imperador, sois o nosso deus! Só falta criar a nossa religião". Napoleão, porém lhe respondeu: "Meu filho, para alguém fundar uma religião é preciso duas coisas: primeiro, morrer numa cruz; segundo, ressuscitar. A primeira eu não quero; a segunda eu não posso."

È lamentável que venho acompanhando durante os últimos trinta anos no Brasil, a busca de toda a nossa sociedade por aquilo que costumo chamar de uma “educação redentora”, ou seja, a educação – a escola e os professores – é a grande responsável e a ÚNICA instituição capaz de salvar das garras das mazelas sociais, todos nós.

Políticos, jornalistas, educadores e inúmeros “estudiosos” do assunto, são taxativos em afirmar que a solução de todos os problemas sociais está na educação. Para acabar com presídios? Abra uma escola e chame o SUPER PROFESSOR. Para acabar com o desemprego? Constrói uma escola técnica e chame o SUPER PROFESSOR. Para o usuário de drogas ter mais chances na vida? Matricula-o em uma escola e chame o SUPER PROFESSOR. Para o brasileiro ter mais cidadania no trânsito? Dê cartilhas para a escola sobre a legislação do trânsito e chame o SUPER PROFESSOR. Para se evitar a gravidez na adolescência? Dê materiais sobre a sexualidade humana para a escola e chame o SUPER PROFESSOR. Para os cidadãos brasileiros não desperdiçarem água? Fácil, dê projetos de sustentabilidade para a escola e chame o SUPER PROFESSOR.

Assim, parafraseando Napoleão Bonaparte, eu não sou Deus. Eu não quero salvar o mundo, eu não posso salvar o mundo e eu não devo salvar o mundo. Eu não quero, não posso e não devo porque não é minha responsabilidade, mas de todos nós, seja você branco, negro, político, comerciante, médico, engenheiro, advogado a assim por diante.

A escola e nós professores não somos a tábua de salvação de ninguém. Isso é papel de todos. O abismo colossal que existe entre ricos e pobres nesse país não vai se extinguir somente com melhores escolas e melhores professores, mas com melhores hospitais e melhores médicos, melhores delegacias e melhores policiais, melhores jornais e melhores jornalistas e principalmente melhores governos municipais, estaduais e federais esses os que detêm uma parcela maior de responsabilidade de toda a desigualdade social existente em nosso país.